terça-feira, 28 de julho de 2009

NAVEGAR É PRECISO...

Definitivamente, ter um blog não é uma necessidade vital...mas, uma vez se estando comprometido com os leitores, o que nos resta senão alimentar essa conversa com certa assiduidade?
No entando, a conexão não está nem aí para atender a esse compromisso. Há dias não consigo nem ler o haloscan, quanto mais escrever algo...É irritante!

Vamos aproveitar,então, e refletir um pouco...afinal, "navegar é preciso, viver não é preciso".
Mas, qual o sentido dessa máxima tão conhecida e talvez pouco compreendida?

Viver não é preciso...seria o viver apenas uma contingência?...algo incerto por ser desnecessário, um acontecimento diante do qual aquele que vive não pôde opinar nem contra nem a favor...foi-lhe dado um passe para a viagem , e pronto!
A ninguém é obrigatório entrar ou permanecer na vida...é uma desnecessidade...mas, uma vez dentro dela, a coisa muda de figura. Uma vez aceita, a tarefa de viver traz inúmeras complicações. É aí que
"navegar é preciso".
Sim, estar na vida e nela permanecer obriga o indivíduo a criar meios para sustentá-la,
para nela sobreviver.
A vida exige um esforço constante, ininterrupto, um trabalho de titãs, um contínuo rolar da pedra que, teimosamente, volta sempre ao ponto de partida...Somos, todos, Sísifo em sua eterna tarefa, tentando construir algo. É um esforço pessoal e coletivo. É navegar cumprindo uma rota obrigatória até o ponto final...que pode chegar espontaneamente ou por decisão
pessoal.
Mas pode não ser essa a interpretação.

"Viver não é preciso"- Viver é o processo cotidiano ao qual nos submetemos. Uma aventura insossa, insípida, inodora, plena de hábitos mortos, um horizonte imutável que vai somente do berço à lápide. Um cotidiano repetido...repetido...repetido...Começar, ou acabar, este processo não faz grande diferença...Mas a vida não precisa correr assim pois há o NAVEGAR.
Ah, o navegar!...O navegar é a aventura..
. O navegar é o arriscar-se. Não temer enfrentar a conquista de horizontes longínquos, desconhecidos...
Navegar é perceber que, além do além, existem "terras" estranhas a convidar o ser vivente a novas aventuras. É o inesperado oferecendo surpresas...Isso, sim, é obrigatório! O navegador é destemido, audacioso, ousado...É o humano elevado à excelência...Aí se expressa o maior valor da vida:
"Navegar é preciso!" E não me refiro apenas às viagens geográficas...Muito antes pelo contrário...
Mas também pode não ser assim...

Com as conquistas tecnológicas a interpretação é alterada e...
Navegar é preciso...preciso, no sentido de que, hoje, navegar comporta exatidão de cálculos, exige um mínimo de risco, exige roteiros, mapas, aparelhos confiáveis, dando ao navegador a (quase) certeza do objetivo conquistado, o porto alcançado...É o detrimento da aventura em favor do rigor e da suposta exatidão do processo conquistador.É a vitória do pragmático.E, claro, há quem prefira viver e levar a vida sob esses critérios.
Mas... há sempre um mas..existem pessoas que percebem a vida como ... " viver não é preciso"... Viver dispensa a severidade das normas e os "mapas" preestabelecidos. E aí todas as possibilidades são bem recebidas...o navegador conta com o imponderável e ama jogar-se ao mar sem âncoras, sem leme, sem roteiro, sem GPS, enfrenta a vida confiante, sabendo que,"qualquer que seja o rumo a ser tomado, há um porto seguro onde chegar".

Tecendo a teia

À minha frente páginas em branco,
agenda que ao tempo cabe completar...
Prever, sugerir, ou apenas registrar
a vida que, em gotas, teima em fluir.

Responsabilidade igual não há,
criar em cima do incriado,
plantar terreno virgem,
palco do inusitado.

Saber-se portador da história,
semente de futuro.
Aventurar-se
em mares nunca dantes navegados...

Romper a cada dia
certezas do passado,
perder a âncora,
içar a vela,
lançar ao mar a bússola segura...

E deixar-se seguir
Tecendo a teia do porvir,
sabendo que,
qualquer que seja o rumo a ser tomado
há um porto seguro onde chegar.

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Isso talvez seja para poucos (ou não!)...Acredito que, fazendo um pouco de esforço de concentração ainda encontraremos novas interpretações para

" NAVEGAR é PRECISO...VIVER não é PRECISO"... e boa viagem.!




segunda-feira, 20 de julho de 2009

AMIZADE... SEMPRE!

Para ser sincera tenho um pouco de dificuldade de estabelecer datas significativas em meu calendário.
No meu entender, e no meu sentimento, o que é realmente importante não precisa de registros ... é importante, e pronto! Em qualquer dia, em qualquer fase da lua, em qualquer estação do ano, com qualquer temperatura, com chuva, sol ou vento...É importante ?! Então é importante, sempre!
Mas recebi recadinhos deliciosos de gente deliciosa...e retribuo, com carinho.
E, é claro, agradeço aos céus, a bênção de possuir amigos. Seria difícil viver sem eles. Para todos, a minha mais verdadeira amizade, as minhas mãos abertas para dançar a ciranda do afeto.

AMIZADE
Maravilha das maravilhas:
caminhar juntos, passo a passo.
Em uníssono ouvir...e apreciar!
Encantar-se em dupla,
sorrir um só sorriso.
Tocar o mundo, arriscar
sonhar um único sonho
e, em dupla, realizar.

É como uma só dança acompanhar,
é como uma só música escutar
ou, diante do assombro, ficar mudo.
É dar as mãos e pela vida prosseguir
plantando, recolhendo,
descobrindo, compreendendo.

Mas, o que há de estranho nisso tudo?
É tão comum sentir-se amigo, dividir,
é tão comum uma emoção compartilhar,
é tão comum contar segredos e escutar...

A amizade traz insuspeitado enigma:
é incrível um pensar...e o outro falar.
É um mistério um sentir dor... e o outro sofrer.
É um assombro um descobrir...e o outro também
e, ao mesmo tempo, flutuarem rumo ao além.

Há um caminho
Há uma proposta
Há um convite
Há uma resposta a encontrar
Há um ideal...

E os amigos fazem juntos a jornada,
naturalmente confiantes
e, sem se cansarem,
seguem unidos pela estrada sem final...

Mas o que há de tão estranho
em tudo isso?
Isso é comum.
É rotineiro...

Mas não quando essas pessoas,
das quais falo nesse instante,
estão a milhas de distância uma da outra
e vivem totalmente distanciadas
e de há muito, muito tempo, se afastaram
e o contato corporal foi eliminado.
É muita terra, é muito espaço a separá-las
e, no entanto, o horizonte permanece
e, embora desconheçam os novos rumos definidos,
a ligação espiritual se fortalece.

Seus pensamentos paralelos vão seguindo
para que, um dia, se encontrem no infinito.


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Às vezes, vale
o prazer de olhar para trás e perceber que...

Tantos passaram por mim...

Viageiro que sou,
vou topando com gente
pela vida a fora.

Alguns apenas passam...
e o que fica é pouco mais que nada.

Mas há outros que,
sem pedir licença,
invadem a minha casa,
se entranham em minha vida,
se colam à minha pele
...e caminham comigo.

E de tal forma a simbiose é feita,
que às vezes digo:
- Não sou um, sou muitos!
Como posso me apartar
de quem de mim faz parte?

Às vezes vejo com olhos de alguém
que, de forma sublime,
me abriu os olhos.

Às vezes ouço com ouvidos outros,
mais apurados , mais atentos
que os meus próprios ouvidos.

Às vezes me ouço
repetindo saberes
que, se hoje são meus,
é porque alguém os trouxe
de esferas infinitas e, delicadamente,
tal pérola aninhada
em concha retorcida,
fez do meu coração depositário,
marcando para sempre a minha vida,
com fino relicário.


Que todos possamos caminhar juntos, desfrutando de sinceras amizades...
É o que a vida tem de melhor a nos oferecer!


domingo, 12 de julho de 2009

O Vôo da Poesia


Foram nove dias longe do meu reduto, o que significa deixar exilada de mim, uma parte essencial do meu jeito de viver...Os meus livros, meus discos...
Os filmes que gosto, o telefone, que sustentam os momentos mais significativos
do meu cotidiano.

Mas não desperdicei o tempo...aproveitei para me reaproximar de algo que me é um bene cosi caro: pintar!

Assessorada por Sandrinha andei vasculhando a Grécia Antiga, na internet (ainda prefiro os livros!)
- templos, estátuas do período helenístico...uma viagem!
E dessa viagem ainda não retornei de todo...

Tenho imaginado as suas musas observando esse nosso mundo contemporâneo, com um olhar divino, capaz de varrer a História desde muito antes, desde O Início...

E nessa aventura as musas têm nos inspirado, a nós, seres simplesmente humanos, a fazer registros.

Calíope, Euterpe,Érato, Polínea, as deusas especialmente dedicadas à Poesia, não dormem, e deixam seu rastro na Literatura, através dos tempos.

As Três Graças, Eufrosina, Aglaé e Talia, deusas do banquete, da dança, das belas-artes, foram cantadas por Spencer:

Ofertam as três ao homem os dons amáveis
Que ornam o corpo e ornamentam a inteligência:
Aspecto sedutor, bela aparência,
Voz de louvor e gestos de amizade.
Em suma, tudo aquilo que, entre os homens,
Se costuma chamar Civilidade.

Até que as Parcas, no seu ofício de tecer o fio do destino humano, venham, com suas tesouras inexoráveis, interromper o destino de cada um de nós, poetas...ou não!

Deixem-me registrar
O vôo da Poesia

Corpo, sangue, alma e divindade
...sem isso a poesia não convence.

Olha a matéria cósmica,
Vê o fluxo dos astros,
Escuta a voz das estrelas
a brilhar no firmamento.

Assiste a explosão da terra
parindo o pequeno cardo
e a espantosa castanheira.

Sente pulsar o coração
que altera o próprio canto,
em mágica compulsão,
ao desesperar de amor.

Vê a lágrima que escorre
brotando de divina fonte
(é olho d'água anunciante)
mensageira de prazer e dor.

Silencia, chora e grita
ante o sangue derramado
em oceano de dor, gerado
pelas desumanidades.

Contempla o que a Arte faz
dignificando a História
no que ela tem de mais belo:
a expressão da alma humana.

...E o místico penar do homem
em busca do Absoluto,
sonhando com a Perfeição.

A Poesia, em paralelo, acompanha...
Do ser humano é a expressão mais comovente.
É ela a linguagem do Infinito, e é ela
quem melhor diz do que nós somos.









sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ainda sobre A CRIAÇÃO

... a conversa continua:

Voltando atrás...
Dinah Hoisel

Menti...

Perdão, amigos, eu menti!...


O poeta e o filósofo não desertam do real...
Ao contrário.
De tão colados à vida
vivem em estado de choque.

Escafandristas,
mergulham cada vez mais fundo...
Parteiras,
fazem surgir a luz,
desinstalando o escuro.

Não sabem o que é o TUDO
Nem sabem o que é o NADA...
( já não é isto um saber?)
Buscam a luz do cotidiano...
Rejeitam andar tateando.
Precisam questionar.

"Eu sei que nada sei"...Ironia!
"Eu quase que nada não sei
mas desconfio de muita coisa."
Que bênção!
Que glória!
Click na sabedoria!
Começo do clarificar...

Um dia quero acordar filósofo
... ou poeta
e ver melhor o mundo que me cerca,
saber mais do meu caminhar

...e talvez morrer de dor.


Mas é preciso cuidado com a insegurança dos poetas.
Eles costumam desafiar os nossos sentimentos e nos provocam, levando-nos do céu ao inferno
em questão de segundos...Transformam-nos em marionetes ao seu bel prazer ...ou à sua desesperança...

Falávamos sobre A Criação...
E, sobre A Criação, mais dois enfoques de poetas que não têm pudor de se contradizerem...

MOMENTO da CRIAÇÃO

Dinah Hoisel

Tivesse eu, agora,a chance de escolha,
sei bem o que me faria feliz:
Um pedacinho de chão
que nem verde precisava ser,
pois verde eu o faria em pouco tempo.

Bastava ter comigo um deus.
Um deus que exerceria
a primeira profissão
que este mundo conheceu.

Um cuidadoso jardineiro,
bem grande e forte,
para vencer as pragas
e os riscos que correm as plantas.

Grande e forte, mas cheio de atenção
e de ternura ao tocar as flores.
E em torno de nós dois
iria se estendendo
o Jardim do Paraíso.

Vencendo dores, tristeza, solidão,
o tapete de cores
iria encantando a natureza,
fazendo cantar a vida.

As pessoas, avisando umas às outras,
se aproximariam,
num misto de encantamento e magia
e - percebendo o incrível acontecimento -
admirando tudo, agradeceriam.

...E sorrindo voltariam aos seus lugares
para transformá-los, também, em Paraíso.

Seria ótimo se assim fosse...mas não é o que pensa
Aline Dichte

Dor Infinita

Pobre e querido planetinha azul,
No Universo és quase nada.
És apenas qualquer coisa
E agora estás à beira da implosão.

E, no entanto
era outro o teu destino.
Alguém te propôs
ser um jardim
onde habitaria o paraíso.

Em que dobra do tempo
se perdeu o teu projeto?
Que mão amaldiçoada
quebrou a tua guia?

És apenas qualquer coisa, sim,
mas nas dores do teu parto
o Infinito uiva de dor
por te tornares, querido,
apenas um aborto.

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Provavelmente Aline assiste televisão demais; sobretudo os noticiários que , no anseio da conquista de audiência (!) deixam escorrer uma hemorragia incontida.
Serão eles os únicos responsáveis pelo descontrole das notícias?...E a nossa parte que dá ibope gratuito?

Uma coisa é certa, você escolhe os óculos com os quais quer enxergar.

Construção

A casa do poeta é feita
do que ele achar melhor
De varandas,
De sobrado,
De jardins e de quintal.
De nuvens
De sinfonias
De cristal
De alegrias
De silêncios e fantasias..

Mas não deixa de possuir
pitadas de intensa dor
para que haja harmonia
e não se afaste demais
da realidade da vida.