Não o li, mas vi, em DVD, o próprio Chico lendo as primeiras páginas da sua história.
Fiquei intrigada com o personagem que escrevia seu romance na pele das mulheres que se envolveram com ele. Insólita idéia! Mas...refletindo melhor, onde são escritas as palavras a não ser no corpo, e sobretudo na alma, de quem as lê?
E a Palavra tem uma força estupenda!
Que tal uma experiência?
Você que me lê, agora, escreva em um dos seus braços a palavra VENENO... e no outro a palavra BÁLSAMO... e esperemos o resultado.
Seria delírio esperar da pele reações diferentes? Não creio!
Caso a pele não se expresse de maneira perceptível, provavelmente a alma o fará.
Teste novamente: de um lado a palavra BEIJO, do outro a palavra DESPREZO...
O resultado será devastador!
Daí, imagino que, ser prudente no uso das palavras é sinal de Sabedoria.
Lao Tsé continua atualíssimo:
É preciso ser " atento como o homem que cruza o rio em pleno degelo, depois do inverno".
Ou " prudente como quem temesse o seu vizinho".
Tenho me dedicado, nesses dias, a "pensar" as palavras, e por isto reservo-me de escrevê-las.
A Palavra carrega em si o peso ou a leveza do seu mistério.
Quase repetindo J. Velloso, que disse: "Um beijo vale pelo que contém" , eu digo:
Uma palavra vale pelo que contém.
Palavra-água: sacia, conforta, salva...ou afoga?
Palavra-unguento: bálsamo, alivia, acalma...ou vicia!
Palavra-guia: informa, aponta, orienta...ou desvia?
Palavra-algema: submete, imobiliza...acorrenta!
Palavra-guizo: alegra, festeja, liberta...ou avisa?
Palavra-garra: caça, fisga, persegue, prende...Sufoca.
Palavra-gozo: inebria, embriaga, fascina, domina
...e toma posse!
Talvez, mais expressivo que a palavra seja o SILÊNCIO.
Permitam-me passear no silêncio, como diria Paulinho da Viola :
enquanto esqueço um pouco a dor no peito,
não diga nada sobre os meus defeitos,
eu não me lembro mais quem me deixou assim...
Hoje eu quero, apenas,
uma pausa de mil compassos...
.....................................................
Quem sabe de tudo não fale,
quem não sabe nada se cale !
Se for preciso eu repito:
Hoje eu quero apenas, uma pausa de mil compassos...