Há dias, e dias, e dias que não nos encontramos... e aí deu SAUDADE !
Foram dias em que minha terra se afogou em lágrimas do céu, e, sem dó nem piedade, as terras correram, as casas das encostas desabaram, as famílias ficaram desabrigadas, a tristeza e o desalento atingiram, com maior intensidade os mais desvalidos e os mais economicamente fragilizados. Até aí nenhuma novidade. Já sabemos que é sempre assim...a corda quebra sempre do lado mais fraco. Além do mais, tempestades e enchentes não chegam a ser produtos recém lançados no mercado...ao contrário, são fenômenos bens comuns.
Entre os fatos que ocuparam a imprensa falada, escrita, e sobretudo televisionada, e que deixaram as pessoas em real estado se choque, (pelo menos na minha forma de entender as coisas) eu destaco A SOMBRA !
Dificilmente costumo assistir televisão...somente em ocasiões especiais eu me planto frente à telinha. E dessa vez eu estarreci! Aquela nuvem cobrindo o céu, diferente de qualquer nuvem que eu já tivesse visto, devido ao tamanho e ao compacto da sua textura, caminhando lentamente pelo espaço, como se tivesse a intenção de fazê-lo desaparecer para sempre...Um cobertor com o aparente peso de uma montanha de pedra querendo dominar o espaço...um monstro silencioso avançando pelos céus, absorvendo a limpidez e o azul que antes costumavam imperar tão naturalmente, dava-me a impressão de que nada jamais seria como antes... Aquilo me parecia uma condenação...uma ameaça...o início de uma nova era de negror e tristeza, da qual não seria mais possível escapar.
As consequências que advieram daquele fenômeno, não melhoraram em nada o sentimento de absurdidade que me envolvia tão intensamente.
O céu estava fechado! A ninguém era dado o direito inalienável de passear pelo espaço, direito conquistado desde Santos Dumont. Se, em algum momento os caminhos celestes ficaram fechados, isto se dava por pouco tempo e em espaços restritos. Agora, não! Ali se encontrava o inaudito, o espantoso, o inacreditável!
E, o mais incrível: a camada da população atingida! Humilhados, atônitos, sem direito sequer às exigências e reclamações às quais sempre se acharam, por direito hereditário, capacitados.
Ali estavam "os poderosos", numa situação incabível no seu cotidiano.
O primeiro mundo se encontrava, literalmente, no CHÃO!
Consequente ao sentimento de impotência, somente uma solução : esperar...
Apenas UM vulcão provocou a pane mundial...E eles são milhares...
E eu fiquei refletindo sobre o real poder da natureza... e como somos insignificantes diante da sua grandeza!
Um Espetáculo
Pobre planetinha, outrora azul...
Sob pressão
de revoltado estômago,
ele vomita!
...E ele racha.
E suas entranhas vermelhas de sangue
rompem a terra
e se lançam aos ares.
Em cada canto a explosão da dor,
gerando dor...e dor...somente dor...
ou olhos estarrecidos e extasiados
diante do inaudito!
São oceanos de revolta intensa.
Já não se encontra o planetinha azul
sob espantoso cinzento cobertor.
E o gigante,
cuja mágoa explode,
se atormenta
em estertores ígneos,
em ondas espetaculares,
suores, suspiros e tremores
que emergem
de um peito torturado.
São urros de animal ferido.
Seu grito não é mais que
um brado de socorro
que ecoa pelos céus,
na solidão e silêncio dos ouvidos moucos.
- Ninguém ouve!