quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Canção de uma manhã ensolarada


Falar de amores é (quase) fácil...
Difícil é falar do Amor.
O Amor está no mundo
está na Vida
está no espaço...
Em tudo que nos rodeia
o Amor está!

Pois é o Amor a Alma do Universo.

O ínfimo e o máximo contêm o Amor
- O Amor contém e está contido -
Ele se encontra em nossas veias...
Por trás dos nossos olhos, nas estrelas...
Nos sonhos mais secretos, em cada canto.

O eco eterno da explosão inicial é o seu canto...

Nada do que existe, nem ninguém
- ainda não, ou já nascido -
escapa ao seu divino esplendor.

O Amor comporta tudo:
convive com a Tristeza,
com a Dor,
com o Sofrimento,
O Amor convive com o amor
por mais desencontrado que ele seja...

Mas o Amor se envolve em bruma acinzentada
se tem que conviver
com a Inveja,
com a Mágoa,
com o Rancor.
Ah! O Amor!...
O Amor exige de volta...o Amor!



segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Canto da quarta-feira de cinzas

De volta, em pleno Carnaval...
O Carnaval é um planeta especial , no qual as pessoas se comportam também de maneira inusual.Todos se divertem numa orgia de solidão acompanhada.Tem-se a impressâo de que tudo é alegria... e que somos um bloco único onde todos se amam e vivem o êxtase do contentamento.
...Mas existe a quarta-feira- de- cinzas (que aqui na Bahia demora mais de se apresentar) e resta apenas o confete numa fantasia suada, amassada e abandonada...não serve para o ano seguinte.
Quem não participa dessa loucura coletiva sente-se em outro planeta e procura o que fazer, para também sentir-se vivo.
Eu, da minha parte, venho conversar com vocês... é mais gratificante.


Antes do beija-flor entrar no nosso circuito, falávamos de AMOR...Talvez valha a pena continuar no tema (só mais um pouco).
No meu segundo livro escrevi algo que passo para vocês.
Um poema que descreve um amor que morre de "morte morrida". Não há trauma, não há drama, não há nada que gere tragédia... É apenas uma constatação.


FIM
Um amor que desmorona
é ave abatida em vôo
mas que não morre do tiro
- não imediatamente.
Cai no chão e agoniza,
a vida esvaindo aos poucos.

Se debate, busca o ar,
da garganta, gritos roucos.
Já não vê os horizontes
descortinados em vôo.
Perdeu o ar puro dos montes.
Já não encontra saída.

Hemorragia incontida
faz sucumbir o alento.
Tudo vai ensombrecendo
na dor que o martiriza.
As forças se retirando
numa lenta agonia...

A desistência chegando
como um anjo que socorre,
trazendo alívio ao tormento.
A ave entende o momento.
Vê que é chegado o tempo,
se acalma...suspira...e morre.


Mas nem sempre as coisas acontecem tão docemente.
Há casos e casos... Há quem seja abençoado ( ou amaldiçoado) com sentimentos bem mais exacerbados... e é aí que a coisa pega!
Observem o que acontece com quem vê seu amor, seu apaixonamento, guilhotinado em pleno auge. A maldição do poeta é colocar em palavras o que deveria ficar sendo um segredo somente seu.
Encontrei essa poesia, que achei admirável...mas não gostaria de viver esse sentimento por demais dilacerante. Gostaria de tê-la escrito sem ter passado por tal tsunami...o que é absolutamente impossível!

Blues Fúnebres
Wystan Hugh Auten

Que parem os relógios, cale o telefone.
Jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais.
Que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do esquife com seu cortejo atrás.

Que os aviões, gemendo acima , em alvoroço,
escrevam contra o céu, o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto - um laço no pescoço -
E os guardas usem finas luvas cor de breu.

Era meu norte, sul, meu leste, meu oeste,enquanto
viveu. Meus dias úteis, meu fim de semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
Quem julga o amor eterno, como eu fiz, se engana.
É hora de apagar as estrelas -são molestas-
Guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.





domingo, 15 de fevereiro de 2009

A lenda do beija-flor

Recebi de uma pessoa muito especial uma fábula que preciso passar para vocês. Digo e confirmo que essa pessoa é especial e explico porque... Ela possui em si mesma uma inexplicável máquina do tempo que lhe permite ir e vir através do tempo com a mesma facilidade com que tomamos um ônibus ou um taxi. Os limites dessas viagens, até onde ou até quando, eu não tenho conhecimento.


Daí que não posso dizer se a lenda do beija-flor que ela (a pessoa em questão) me enviou lhe foi contada por ancestrais seus, ou é uma criação dela própria. Mas isso é o que menos importa.
O que consegui absorver da dita lenda é a explicação (absolutamente verossímil) do comportamento do nosso beija-flor.


Agora podemos saber porque ele age de maneira tão pouco habitual, tão inusitada.


Segue-se a lenda:



Lenda do beija-flor


Conta uma lenda indígena que um dia um bando de uirapurus – os pássaros mais canoros de toda a floresta – se reuniu para uma audiência com Tupã.


Ao chegarem na presença do deus supremo, postaram-se ao solo e um porta-voz previamente escolhido assim falou:


- Ó, Tupã nosso pai, senhor e criador de tudo que anda, rasteja, nada e voa, nos agraciastes com o mais belo canto de toda floresta, porém nossa plumagem não faz jus à beleza de nossa voz. O colorido de nossas penas pouco supera a de um reles pardal.


Neste ponto, Tupã interrompeu o porta-voz e disse;


-Todos os pássaros vos invejam os trilados longos e melodiosos, isto não vos basta? O que mais quereis?


-Ó pai, dai-nos uma plumagem esplêndida e um bico longo e elegante.


-Tens certeza do que me pedis?


-Sim, pai Tupã, é este o nosso maior desejo.


-Pois que assim seja.


De imediato a plumagem do bando descontente de uirapurus transmutou-se em uma brilhosa aquarela onde predominava o azul e o verde – alguns outros preferiram o dourado e mesmo o vermelho, mas todos se viram possuidores de bicos longos e graciosos – alguns eram curvos e outros eram retos.


Maravilhados e agradecidos a Tupã, lá se foram os uirapurus.


Logo sentiram fome, tentaram capturar os insetos de costume mas perceberam que seus novos bicos eram incômodos para a tarefa outrora tão fácil. Passaram então a se alimentar do néctar das flores.


Não lamentaram a mudança e disseram:


-Quem precisa de insetos? Agora podemos capturar o mel com nossas línguas.


Após se satisfazerem à larga, deu-lhes vontade de cantar e atrair os outros pássaros invejosos de seu canto incomparável. Mas... que decepção! De suas gargantas saía tão somente um trilado curto, inferior até mesmo à voz de um pardal.


Frustrados, foram novamente ter com Tupã.


-Pai, o que houve com nosso canto que tanta inveja causava aos nossos primos?


Tupã irritado limitou-se a convocar uma harpia para que os expulsasse do palácio.


Dizem que alguns desses novos pássaros – apelidados de beija-flor – vagam hoje por vários lugares à procura do canto que já não podem executar. Pousam tristonhos em quintais toda vez que ouvem música e tentam reaprender a arte perdida.



Olha aí o nosso amiguinho parado, ouvindo música.

(Clique para ampliar)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O BEIJA-FLOR

Ele tem voltado,
religiosamente,
Todas as manhãs
Todas as tardes...
Antes das cinco ele parte...
Para onde? Para quem? Para quê ?
Não me cabe saber...é seu segredo.



Não vem, como eu pensava,
repousar no seu galho preferido
para descansar suas asas agitadas.



Fica horas
- isso mesmo, horas -
paradinho, acordado, ali fica,
pousado em serenidade
para... OUVIR MÚSICA !





Foi o maior assombro dos meus dias.
Agora já não é mais.
É a constatação da unidade universal :
O que é bom para nós
é bom para as plantas
... para os bichinhos
...para os passarinhos.

Vê-lo escutando os sons
é ver-nos desejando a Paz.
Contemplá-lo passou a ser meu vício.
Eu sou o seu DJ
...e ele tem preferências !

Mas isso eu não conto a ninguém,
Não quero que me levem para o hospício !


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Queiram ou não acreditar, as coisas se passam exatamente assim...Há um beija-flor, há um jardim, há um som rolando... e há um mistério e um assombro acontecendo. Mas nada disso poderia ser conhecido se não houvesse dois olhos atentos, re
gistrando.
Muitas pessoas já viram e quiseram levar para a mídia (TV) o inusitado acontecimento.Não permiti. As fotos que ilustram a despretenciosa poesia não são dele...mas já o fotografei em várias ocasiões, depois que ganhei uma máquina fotográfica (a minha antiga o ladrão levou, espero que faça bom proveito).
Com o ninho pretendo lembrar, a nós todos, a grandeza da Natureza quando ela se revela no MÍNIMO.










quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

INSENSATEZ




Loucura...estupidez...

inocência ou insensatez?
A verdade é que
nos deixamos enredar
em rede pior que teia
de astuta aranha.

Que seria o amor, senão isto?

A tarrafa nos alcança,
já não podemos fugir.
As suas bordas de chumbo
fazem-nos prisioneiros
...peixes sem direito de fluir
ao sabor da liberdade
do rio em que escorre a vida.

Gaiola dourada tolhendo
vôo de pássaros
outrora livres...
Qualquer pessoa sensata
reconhece toda a trama,
prevê o turbulento drama
de alguém enamorado

...mas quem
tem juízo suficiente
para não se permitir -nunca-
ser fisgado ou flechado
pelo infantil Deus do Amor?
Eu não conheço ninguém
(Pensando bem, conheço, sim).

...E, apesar de tais prisões,
ainda pensar-se feliz!

Tolice!
Bobagem!
Insensatez!
Essas verdades vêm sendo,
à exaustão , repetidas.
Séculos as têm escrito nas estrelas...
Mas, cegos, não queremos vê-las.
- São lições jamais aprendidas.