Há tempos ela não comparecia ao meu campo audio-visual. Acabo de encontrá-la. Como sempre desfia um rosário de queixas, mágoas, protestos ou quebrantos.
Pacientemente a escuto...e não posso deixar de transformar em versos os seus queixumes. Ela é, para mim, uma fonte de inspiração. Querida Aline, um poço de sentimentos, reais ou fictícios? Não saberia responder...
Preciso ser prática
Preciso urgentemente de um parceiro
para dividir comigo o dia.
Há lâmpadas que não sei trocar
Um chuveiro a enguiçar
Lacres de garrafas que não consigo abrir
Alturas além do meu alcance
Pesos muito além da minha força.
Missões impossíveis de resolver sozinha.
Entretanto,
explicando com clareza,
não preciso de ninguém
pra me acompanhar à mesa.
Ninguém que me venha ajudar
a refletir a vida
ou melhorar o espaço
em que nos perdemos de ser irmãos.
Não me faz falta
alguém que me aqueça as mãos
se, à noite, sinto frio.
Alguém que divida risos.
Também não careço dividir
a brisa alegre dos domingos.
Gosto (mesmo?) de estar só
a ouvir Gal, Djavan, Elis
em qualquer fim de semana
e, divagando, olhar o mar
na vivência saborosa
de um barzinho a beira-mar.
Nem preciso de um ombro
pra acomodar a tristeza
se vejo que ela já vem.
Gosto de seguir sozinha
sem rumo e sem destino
ruminando a paisagem
em solitária viagem
sem hora de ir ou vir...
Encerrando o meu discurso
destilando azedo verbo
tranquila posso ir dormir
...e tudo mais vá pro inferno.
Pois é... é assim que ela se apresenta.Mas não me deixa preocupada.
Bastam alguns passos, como acontece com todo caminheiro, pois "quem caminha noite e dia sempre encontra um companheiro", um bom papo, uma viola só, um canto... e a estrada reencontra o rumo...até nova recaída.
"...Sua vista pouco alcança, mas a terra continua"... Segue em frente, Aline...