Despedida em alto estilo
" Oh, sim, eu estou tão cansada mas não pra dizerque eu estou indo embora..." Pois é...Estou deixando Salvador instigada pelo acúmulo de situações que já não me dão prazer. Até o bucólico bairro de Itapuã está mudando de perfil. A cidade cresceu e se complicou de tal forma que está difícil reencontrar a singeleza e o encanto interioranos que a caracterizavam. Deixo-a para quem tem estômago para enfrentar, não somente os seus problemas atuais, mas aqueles que se prenunciam no horizonte. O tráfego é um deles...e não o menor. Para mim, estava faltando o momento que se destacasse como uma despedida...e ele aconteceu ontem. E foi uma despedida triunfal. Não só assisti, mas me envolvi num show de MPB, no qual, mulheres especiais cantaram - pasmem- somente músicas de Chico Buarque... e que músicas!
A Caixa Econômica, num gesto de extrema sensibilidade, ofereceu aos seus próximos e a outros convidados, um espetáculo de pura magia. No palco, Daniela Mercury, Roberta Sá, Paula Lima e Margareth Menezes. Na seleção das músicas, apreciamos o talento genial de Chico ao cantar o Amor, o abandono do amor, a suavidade e o desengano de diferentes situações amorosas, o desejo de realização de sonhos impossíveis, a revitalização da mulher abandonada, ou mulher conquistada pelo brilho da ascensão social, ou...muito mais! Foram mais de vinte melodias.
Durante os vinte anos em que aqui vivi, alguns ótimos momentos dedicados ao showbusiness colocaram-me em estado de exaltação. Eventos em que o sentimento, a admiração, o êxtase estético da alma, atingiram grau máximo... A música e a poesia conseguem fazer isto comigo. Ontem aconteceu de novo. O ponto máximo esteve com Margareth Menezes, ao cantar dois assombros do magnífico músico-poeta: " Cálice" e "Geni e o Zepelim". Todo desespero, toda insubordinação, toda a miséria contida no drama da história humana, no sentido não somente individual, mas e sobretudo, como coletividade, ali estiveram brilhantemente representados na interpretação da artista.
Foi de uma grandiosidade inigualável...valeu a noite, valeu o desconforto de assistir o show em pé, equilibrada sobre os ferros da grade de sustentação do telão, uma forma que encontrei de sobrepor a minha pequena estatura àquele mar de gente que insistia em me afogar, me impedindo de ver, com cem por cento de satisfação. Mas EU VI! Meninos eu vi!
Foi um deslumbramento. A possante voz de Margareth, sua expressão corporal delicadamente contida ou explosivamente exuberante, numa excelente adequação ao sentido das frases dos poemas, levaram-nos a descortinar as dimensões pretendidas pelo poeta. Palavras fortes provocam emoções fortes.
Muito grata, menina, pela noite inesquecível em que deliciosos sambas finalizaram o espetáculo, levando a plateia ao delírio.
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