Houve tempo   
(parece um passado bem distante)
    
em que a vida tinha valor.    
Mulheres piedosas    
rodeavam o berço do recém-nascido    
e louvavam o Senhor...    
Povos primitivos     
elevavam a nova criatura    
acima dos ombros, em oferenda,    
e bendiziam o novo ser.    
O Senhor da Vida e da Morte    
era invocado.    
Sabia-se o valor do dom. 
    
Festejava-se.    
Cantos, danças, rituais,    
tudo apontava    
a glorificação do Sumo Bem.    
Só a criança chorava.
A morte programada convivia   
com os humanos, sim,    
mas limitava-se    
ao seu lugar próprio: a guerra.    
Guerra...parecia ser, então,    
a suprema loucura,    
em razão de algum    
distorcido objetivo    
que a ambição humana encerra.    
    
Hoje    
observa-se o absurdo.    
Loucura generalizada.    
O ser humano não conseguiu    
ser o Senhor da Vida    
mas já é o Senhor da Morte.    
    
A morte passeia livre.    
Crimes semeados    
como se fossem flor    
germinam com a voragem    
de ervas daninhas.    
    
Já não há limites    
nem justificativas.    
A morte, de tão inesperada,     
já é esperada.    
Troca-se a vida    
por qualquer objeto sem valor,    
por qualquer emoção danificada.    
Mata-se por tudo ... e por nada.    
    
E as crianças que nascem     
continuam chorando...elas sabem.    
Elas, com certeza, sabem.
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