Ainda somos humanos!... é a grande inferência.
Todos os prognósticos eram adversos porque o diagnóstico era aterrador.
As circunstâncias se acumulavam e se equilibravam numa fragilidade de castelo de cartas prestes a desmoronar definitivamente.
O assombro externo só encontrava similaridade ao provável estado de estupor dos principais personagens do drama acontecendo e da tragédia que se prenunciava.
O ineditismo do acontecimento não permitia previsões nem contra nem a favor. Mas as dúvidas eram avassaladoramente dominantes. As ameaças reais e imaginárias eram tais que poderiam paralisar e engessar a movimentação e a criatividade geradoras de solução. Um túmulo a quase 700 metros de profundidade era o desafio que se revelava como um problema a ser resolvido, numa atitude (quase) acima da capacidade humana. Em luta contra o tempo, a altura de um prédio de 220 andares deveria ser vencida para que o resgate acontecesse.
A cada momento as dificuldades iam-se revelando...e as dúvidas se concretizando.
Era necessária a perfuração...e o que seria encontrado?
Rochas indevassáveis, ou frágeis, além da conta?
Lençóis freáticos com possibilidade de inundação?
Exalação de gases subterrâneos contaminando o ar já pouco saudável, no qual o oxigênio e a temperatura adequados teriam que ser manipulados e conseguidos através do conhecimento técnico da equipe de salvação?
As dificuldades eram tantas que ultrapassam o quase absoluto desconhecimento de quem lhes escreve, neste momento. Desisto de enfocar esses problemas uma vez que poderia derramar sobre aqueles que me leem um monte de palavras insensatas e bobas. Sou apenas uma escriba ignorante e emocionada. Dois atributos que não me conferem validade.
E aqui fico a louvar, admirar e bendizer os resultados obtidos pela equipe de salvação em todas as etapas do processo.
Mas, perdoem-me, não poderia deixar passar em branco o sentimento que me dominou e me dominará por longo tempo, creio mesmo que por todo o meusempre(tão limitado!) - Sinto-me honrada em fazer parte da comunidade humana! Se sou semelhante àqueles homens que puderam conviver em condições não somente adversas, mas aterrorizantes.
Temos certeza que, nos primeiros 17 dias, a falta de perspectivas era a cegueira dominante àquele desafortunado grupo. Nada viam... nada sabiam... nada esperavam, talvez. E, no entanto não se encaminharam para a selvageria, para o desespero, para o desequilíbrio da certeza do desfecho trágico... "É impossível não ficar louco aqui dentro..." escreveu um deles. Contudo eles conseguiram conservar a lucidez.
Eles esperavam... e construiam, dentro de suas limitadíssimas possibilidades, o que lhes era permitido, para conservar e fazer crescer a sua própria hominização. Alguém já definiu: "...palavra que nenhum animal faria tal coisa...somente o bicho-homem seria capaz dessa conquista!"
Eram humanos, sim , lutando para tornar coletiva, ao seu desventurado grupo, a característica marcada pela solidariedade, pela empatia, pela compaixão, pela generosidade.
Cabe-me registrar o que sinto: sou humana, faço parte dessa honrosa categoria dos seres viventes da qual faz parte essa fatia que o mundo inteiro admira e aplaude.
Que as consequências advindas deste acontecido não venham diminuir a glória do inédito. Que o uso dos fatos não atinja o nível do abuso...em quiasquer dos vícios (econômicos, políticos, empresariais , midiáticos...) costumeiramente vividos por uma humanidade tão necessitada de bons exemplos.
Bom seria aproveitarmos , ao máximo, a lição!
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