quinta-feira, 23 de abril de 2009

SERTÕES...e SERTÕES

É difícil para o nordestino que cresceu ouvindo "causos" de seca, de jagunços, de tropeiros e boiadeiros, com suas roupas de couro, cobrindo, como uma segunda pele, todo o corpo, evitando assim que dilaceradas fossem as carnes, pelos espinheiros da caatinga...é difícil imaginar os longes do cerrado.
Entretanto, por ali corre o São Francisco, misturando tudo: destinos, dores, sustos, esperanças...

No cerrado pode-se pensar em várzeas, serras, campinas, matas, riachos, lagedos, pensar em terras avizinhadas onde florescem, em abril, ciganinhas roxas, e a nhiíca e a escova, amarelinhas...e as caças..."a carne, de gostosa, diverseia."
"Ouvir o trovão de lá, e retrovão, o senhor tapa os ouvidos, pode ser até que chore, de medo mau em ilusão, como quando foi menino.O senhor vê vaca parindo na tempestade.(...)A serra ali corre torta."
E recordam-se terras outrora vistas e para onde se quer voltar.
"Perto de muita água, tudo é feliz."

Qualquer nordestino cisma, invejoso de tais conhecimentos...
O cancioneiro nordestino é o lamento desejoso de outra sina.

(...) Pelas sombra do vale do ri Gavião
os rebanhos esperam a trovoada chovê
Num tem nada não,também no meu coração
vô ter relampo e trovão
minh'alma vai florescer
....................................................
Meu dia inda vai nascê
E esse tempo da vinda tá perto de vim.
Campo Branco ( Elomar)

(...) a seca fez eu desertar da minha terra
mas, felizmente Deus agora se alembrou
de mandar chuva presse sertão sofredor
sertão das muié séria, dos home trabaiadô.
A volta da asa branca (Luiz Gonzaga)

O amor daqui de casa
tem um sentimento forte
Que nem gemido na telha
quando sopra o vento norte
Que nem cheiro de boi morto
três dias depois da morte
Quem só conhece o conforto
não merece boa sorte...
O amor daqui de casa (Gilberto Gil)

Em belíssima composição Chico César nos presenteou com imagens marcantes.
Na sua imaginação plantou sementes de mar, grãos de navegar, que iriam transformar o seu sertão...ondas, águas..."só de imaginar eu vi..."
Mas no seu desvario, na sua busca, em nenhum lugar, nada de achar o mar que semeou!...
" Mar que semeei, perdi!..."
Nada. Nada se realizou, nenhum mar floriu em seu sertão.
Numa constatação dorida ele concluiu:
"...como o amor que eu nunca encontrei, mas existe em mim..."

Faço coro com esse poetas:

Ah! meus loucos geniais
como me consolam
as vossas fantasias!

A nossa liberdade seminua
levanta sua bandeira
e aponta novo rumo.
Há um algo a conquistar...

O quê?
Não sei. Mas basta olhar
o entorno que nos coage,
nos sufoca e nos anula.
...E ouviremos a Liberdade
a gritar: "Reage!"

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