sexta-feira, 3 de abril de 2009

Aline reapareceu...



Ontem recebi uma visita inesperada. Já há algum tempo ela não me aparecia: Aline (Dichte), minha amiga.

Chegou, sentou e entabulamos uma conversa que me pareceu meio sem entusiasmo...
Eu, na cozinha, limpava uma pequena toalha de plástico. De repente, percebi certa semelhança entre a toalha e a Aline, ali na minha frente: ambas se revelavam impermeáveis.
Aline conservava-se distante, nada a atingia em profundidade, nada a alterava, apesar das minhas provocações.
A conversa rolou por algum tempo e em determinado momento Aline, sem se despedir, retirou-se.
Só então vi, sobre o sofá, algo que ela esqueceu.Uma pequena sacola contendo alguns tabletes de chocolate, uma revista com data bastante atrasada...e uma folha de papel onde havia uma poesia escrita a lápis ( com data mais atrasada ainda - estava a completar dois anos de escrita).

Achei o texto poético interessante e, considerando a minha atual fase de aridez produtiva, senti ser providencial ter nas mãos aquele achado.
Entrei em contato com minha amiga e pedi autorização para publicar, aqui, a sua criação.
A resposta não me surpreendeu muito:
- Tanto faz...
Havia profunda indiferença na sua voz.

Coincidência, ou não, o poema se chama:

Tanto faz...

Não mais vou te procurar,
Tenho muito a te dizer
mas nada te apraz ouvir.
Guardemos toda distância.
É melhor assim...

Quase que tua presença,
modulada por um fio,
era a mais doce alegria
que, à noite, me agasalhava.
Sem ela já não dormia.


Era a última oração.
Era o ponto final do dia.
Tua voz era a almofada macia
onde a minha alma-gato
se enroscava pra dormir.

Agora, deixo ao silêncio
a função de me ninar...
Ou àquela fiel canção
sempre, sempre, ao meu alcance.
Sempre pronta, a me esperar,
Sempre pronta a me escutar.

Nenhum comentário: