Eis-me aqui, voltando com a mochila cheia de saudade...Estive relendo a última postagem e considerei o tanto de densidade que ali se revela. As asperezas da vida...
Tentemos ser mais leves, na certeza de que leveza ou densidade, muitas vezes, é apenas uma questão de ponto de vista.
Hoje conto para vocês uma singela história que chegou ao meu conhecimento.
É a história de alguém que, muito criança ainda, tão criancinha que nem verbalizava corretamente as palavras, um dia desapareceu de casa e, numa linguagem tatibitate, cobrava a atenção dos adultos:
- Xocoio! Tou moiendo!!
Tal desespero, repetido e repetido, como um disco arranhado, colocou as pessoas da casa em polvorosa:
- Meu Deus! Onde estará morrendo esta criança?
Seguindo o som, a mãe foi encontrá-la no fundo do quintal, caída de costas sob uma caramboleira, com as mãozinhas cheias de carambolas pecas...
Morrer, sim! Largar as carambolinhas, jamais!
AS CARAMBOLAS
...e as carambolas pecas
enchiam as mãos da criança...
Eram, a seu ver, seu tesouro
e sentia-se morrendo,
mas não largava o que guardava
pois era tudo que tinha!
Era seu bem precioso.
Somente carambolas pecas
...jamais iriam medrar,
prosperar ou progredir
...jamais amadurecer.
Eram só carambolas pecas...
mas foi o que a vida lhe deu.
Não serviam de alimento
mas serviam de consolo
como pedras preciosas
de valor afetuoso.
No seu grito de socorro,
a tolice, a insensatez:
morrer, se preciso fosse,
mas, nunca, jamais, largar
o bem que logrou herdar.
A vida passa
A criança cresce
e as mãos continuam cheias
daquelas carambolas pecas...
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Por estes dias estive meditando sobre a Vida e a Morte (exercício, aliás muito comum em meus pensamentos).
Este assunto nunca me deprime, é-me muitíssimo natural...E foi um momento sobremaneira adequado, uma vez que , deixou o nosso convívio uma irmã muito querida...
Pensar na Vida deveria sempre incluir o seu clímax...pena que nem todos pensem assim.
O giro que Chico não viu
Viver, movimentar-se...
Viver: girar...girar...girar...
Giram planetas no espaço
Giram cometas, nebulosas,
giram os astros no céu
em órbitas controladas...
Em espiral se movendo
Via Láctea piscando
acolhe a tribo do Sol
no seu giro singular...
Giram crianças na roda
Giram pares numa valsa
Gira o pião na mão
Gira o carrossel no parque
atraindo a multidão
...e há o canto da ciranda
que acompanha a sua dança
trazendo giro suave e manso
em sereno circular...
Dar as mãos, sentir presença,
cadenciar cada passo,
harmonizar movimento
indo, voltando, avançando
em ritmo lento dançando
é, talvez, no universo,
o mais soberbo girar.
Dêem-me as mãos, vamos dançar!
***
"...que a vida é uma dança onde não se escolhe o par"
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