Creio mesmo que, no meu histórico, está faltando uma página deveras importante: advogada das causas impossíveis...mas aí eu tomaria o lugar de um santo muito respeitado e requisitado - Sto. Expedito.
Vamos aos fatos.
Conheço um senhor que, continuamente, não é levado a sério. Fazendo parte de um grupo de pessoas sérias (Exupéry as reconhecia há long, long time ago !) sempre que o meu quase amigo fazia alguma colocação, ou defendia alguma tese no ambiente grupal, os companheiros rejeitavam e até condenavam seus pontos de vista. Achavam-no não apenas irônico, mas até debochado...
Ele não aceitava tal juízo, que considerava injusto. Não posso opinar com segurança uma vez que não faço parte do seleto grupo (acho que não sou uma pessoa séria o suficiente!). Sendo assim não me cabe o direito de aferir ou compreender o mérito ou o demérito das suas ditas irreverências.
Ora vejam! Um dia ele se sai com essa: "Senhores, eu amo o som da minha descarga!"
No ambiente antisepticamente ético, de moral ilibada, politicamente correto, o anúncio caiu como uma provocação!
Era o absurdo levado a extremos. Era a exacerbação do deboche. Era a explosão da picardia.
E, como nunca, ele se viu acuado pelas disposições em contrário.
E ele ficou triste!
Sabendo do ocorrido, revesti-me com a túnica da defensoria pública.
E pensei...pensei...refleti...até atingir o âmago da questão!
Foi então que a minha alma de poeta veio em seu socorro, retirando da sua reflexão o sumo da verdade que ela contém:
A Descarga
Talvez por isso
eu ame o som da minha descarga.
Ela me livra, me dispensa
daquilo que, em mim, é excrescência.
É por ela que
de novo, me sinto novo.
Há um renascer a cada golpe
de limpeza dos resíduos.
Um passo novo...
um recomeço.
Uma retomada de caminho.
Fonte de novas escolhas.
Ao esgoto como o mau cheiro
que pode invadir meu ninho.
A água que corre
me livra de pecados escondidos.
Liberta-me de amores complicados.
Afasta-me de sonhos impossíveis
...de muita carga pesada.
...de dores não confessáveis
...sobras não aproveitáveis:
mágoas, sustos, tristezas, vulgaridades.
É, a descarga, a esperança,
o albor de nova era,
certeza de novo chão
...ela me torna outra vez confiante!
Por ela meu corpo se recupera
e minha alma se eleva.
Como podemos perceber, basta um pouco de boa vontade. Afinal, o som da descarga traz, em si, sentido semelhante ao som das trombetas do juízo final: Após aquele som, a redenção!
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