terça-feira, 20 de julho de 2010

Mário Quintana, um Mestre...



Senhoras e senhores,
continuo minha peregrinação pelas "causas indefensáveis".

Talvez esse tempo de ventos uivantes e uma chuva que não passa, nos obrigue a uma interiorização com sabor doentio, quando, então, o nosso "porão" sofre um processo de desinfecção obrigatória.
A água que cai, vem lavando recantos esquecidos. É um momento próprio para reconsiderar...

Minha terra é chamada "Ilha da Fantasia" devido ao sol e à música que nela imperam...são sua alma e seu sangue...

De repente, uma sombra recobre tudo. E o sentimento da gente vai junto...E o jardim também...

Pensando no jardim e nas pessoas, levanto mais uma bandeira de reconciliação.
Vejam o que diz Mário Quintana:

O que mata um jardim
não é mesmo alguma ausência
nem o abandono...
O que mata um jardim
é esse olhar vazio
de quem por ele passa, indiferente.

... e eu completo:
Creio que também
é esse olhar que mata
as pessoas que perpassam
à nossa volta, mendigando atenção
...e nem são vistas!
O olhar indiferente
as torna transparentes
...e mortas!

Dedico esse post a Bruna...uma pessoa que a vida se incumbiu de maltratar e fazer dela um alguém que, por onde passa, sofre rejeição.
Define-se como "ela", embora tenha nascido "ele".
Aproxima-se das pessoas para pedir ajuda, mas o seu aspecto não colabora. Quase sempre sujo, dentes em último estágio de destruição, cabelo desgrenhado, uma magreza inquietante, reveladora do mal que o consome.


Quando o recrimino pelo seu aspecto desleixado , ele retruca:
" Mãe, não tenho nem dinheiro para comprar sabão para lavar as minhas calcinhas!..."
Tenho certeza que, apesar de tudo, ainda lhe resta uma boa dose de humor:
"Estou operada...retirei o útero!..."
Ele se torna grosseiro e até agressivo se lhe negam a esmola...mas não ultrapassa as palavras.

Eu já sofri muita incompreensão pela atenção que lhe concedo.

Não poderia agir diferente!

Ele retribui vindo me ver, sempre tomado banho, cabelo cortado, roupa lavada...só as unhas estão sempre horríveis! (mas ele as esconde para que eu não as veja...)

Um dia ele me disse: "Sabe por que eu gosto da senhora?"
E ele mesmo respondeu: "Porque a senhora me olha!"

Bruna me adotou como "mãe"... e não se sente nem um pouco incomodado em apresentar minha filha como sua "irmã", onde quer que a encontre...
Fala isso com uma certeza comovente.

Eu bem sei que o rumo que sua vida tomou tem muito da sua própria responsabilidade. Mas tenho certeza maior ainda - muitos foram os que colaboraram para transformar uma criança linda e saudável, ou o cozinheiro competente que outrora ele foi, naquele coitado que depende da compaixão dos outros.

Uma última palavra
Guimarães Rosa:

"Eu sei: nojo é invenção do Que Não Há para estorvar que se tenha dó."

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