É justo, admissível e até esperado que uma poetisa louve-se a si mesma e às suas parceiras , em data universal.
Mas... louvar a qual mulher ?
Somos tantas, tão variáveis e tão diversas quanto os pontos e as cores de um bordado.
Na mitologia feminina uma figura se destaca:
PENÉLOPE.
A mulher-fiel, a mulher-esperança, aquela para quem vinte anos passaram com a violência e a placidez de uma tempestade que, em um certo alvorecer, chegou ao fim.
Mas...teria sido assim?
Teria ela tido paciência e perdão suficientes para escutar o relato das aventuras que lhe arrancaram seu homem por tanto tempo?
Sei não.
AS FIANDEIRAS
Tecer é aprisionar as mãos
...mas libertar os pensamentos...
É permitir que
infinitos mundos
rodopiem sob ação
de fantásticos ventos.
Viagens reais nada são
comparadas
às viagens virtuais.
Na concretude
o princípio
o meio
o fim
o limite
a fronteira
a partida
a chegada.
Na espiral da fantasia
paisagens
personagens
roteiros inimagináveis
delírio
histórias inconcebíveis
tomam forma
e, vindos da fugacidade,
vêm pousar
nos pontos e nas cores
do bordado.
E, da viagem
sem partida
e sem chegada,
suprema maravilha surge
...mas libertar os pensamentos...
É permitir que
infinitos mundos
rodopiem sob ação
de fantásticos ventos.
Viagens reais nada são
comparadas
às viagens virtuais.
Na concretude
o princípio
o meio
o fim
o limite
a fronteira
a partida
a chegada.
Na espiral da fantasia
paisagens
personagens
roteiros inimagináveis
delírio
histórias inconcebíveis
tomam forma
e, vindos da fugacidade,
vêm pousar
nos pontos e nas cores
do bordado.
E, da viagem
sem partida
e sem chegada,
suprema maravilha surge
dos dedos de Ariadne.
Por quais misteriosos mundos
voejou Penélope
no seu tece e destece?
O soubesse Ulisses
por certo a invejaria.
voejou Penélope
no seu tece e destece?
O soubesse Ulisses
por certo a invejaria.
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Que homem voltou para ela?
O mesmo que partiu?
Vale lembrar que a história de Ulisses foi escrita por um homem... o que tem seu peso histórico.
Contada fosse por uma mulher, o enfoque seria outro, com certeza.
PENÉLOPE DESISTENTE
Há um tempo para suportar.
Há um limite para resistir.
Depois de ali, o Hades
Depois de ali, o Nada.
Já não se sente
o pulsar da vida.
Já não se acende
o brilho do olhar.
O des-esperar
sufoca qualquer esperança.
Nas mãos vazias
nem sequer lembranças.
No tempo interno
apenas o inverno.
Foi tão intensa e longa a espera
que matou definitivamente
a primavera.
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Darei a palavra a MIRIAM FRAGA, uma divina poetisa baiana que ousou falar por PENÉLOPE.Há um limite para resistir.
Depois de ali, o Hades
Depois de ali, o Nada.
Já não se sente
o pulsar da vida.
Já não se acende
o brilho do olhar.
O des-esperar
sufoca qualquer esperança.
Nas mãos vazias
nem sequer lembranças.
No tempo interno
apenas o inverno.
Foi tão intensa e longa a espera
que matou definitivamente
a primavera.
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Sua poesia tem a força da voz na 1ª pessoa:
PENÉLOPE
Hoje desfiz o último ponto,
A trama do bordado.
No palácio deserto, ladra
o cão.
Um sibilo de flechas
Devolve-me o passado.
Com os olhos da memória
Vejo o arco
que se encurva,
A força que o distende.
Reconheço no silêncio
A paz que me faltava.
(No mármore da entrada
Agonizam os pretendentes.)
O ciclo está completo,
A espera acabada.
Quando Ulisses chegar,
A sopa estará fria.
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