sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Celebrando o novo!
A quem responsabilizar?
Claro que ao Sol, às Estações, etc, que insistem em retornar, sempre...sempre...sempre...
Uma cantilena ininterrupta, obrigando-nos a repensar o ciclo da nossa própria vida.
Feliz ano novo, feliz dia novo!
PENSE BEM
Seria a cigarra
o galo da tardinha?
E, o galo, a cigarra da alvorada?
O galo desperta o dia.
A cigarra o faz dormir.
São cantos que
se assemelham.
Não fazem carreira solo.
Gostam de brincar de eco.
Quando um canta
outro responde,
tecendo a teia ou véu
que cobre e recobre o dia.
Na lírica do sertão,
cantoria admirável.
O Dia merece, sim,
anúncio de clarinadas.
Despedida de trombetas.
Espetáculo adorável!
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Só assim...
apenas sons
ou grafismos
...nada mais.
Podem ser
e continuar sendo, eternamente,
apenas isso.
Hieroglifos não decifrados..
Segredos não revelados...
Mas há o milagre
há o prodígio
há a transfiguração...
Pelo atento ouvido de quem ouve,
pela atenção de quem lê,
a Luz se faz!
O encontro se dá...
tal o sol e a chuva fina
- dá-se o arco-íris.
A energia da espessa nuvem
ao encontrar o solo receptivo
-dá-se o raio.
Espermatozoide e ovo
-dá-se a vida.
O poeta escreve...
Mas deseja, anseia,
desajeitadamente espera
por você,
para alterar sua sorte
e fazê-lo prodigiosamente vivo.
sábado, 13 de dezembro de 2008
NATAL
Que posso te desejar neste Natal?
Que haja muita flor
em teu caminho
para compensar, com excelência,
algum espinho?
Que brilhe um belo Sol em tua vida,
mesmo que algum dia
te surpreenda, sombrio,
inesperadamente frio?
Que anjos de céus e terras
estejam sempre alertas,
ao teu redor, cuidando
com desvelo da tua caminhada?
Ou que tua história
prossiga baseada
na compreensão e no amor,
na mais fina companhia?
Ou tudo isto
embrulhado pra presente,
em bela caixa colorida,
com um lindo laço dourado arrematando !
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
e no entanto...
é preciso procurar alcançar algo maior do que o que a linguagem tem para oferecer.
A primeira chave é o poder do caos, que é feminino, situado além da previsão e além de uma apreensão plena e racional.
A segunda fonte de poder é a Imaginação Divina, a imaginação que é o nosso legado mais rico, o direito de progenitura que nos liga ao divino.
É a nossa capacidade poética, nossa capacidade de entrar em ressonância com a noção de beleza ideal, de criar, sob forma a forma de arte, aquilo que transcende nossa própria compreensão.
Terence McKenna
Princípio da Mudança
Quero vislumbrar o que virá.
Serão as cinzas do presente
o embrião da Fênix futura?
Escombros serão o germe, a semente?
Diante do eterno,
a aventura está apenas começando.
Cegos, não vimos o que deveríamos ter visto.
Os padrões nos escaparam,
neles se encontram o sentido da história.
É preciso considerar tudo sob nova luz,
sob nova lente
e dar o salto que não soubemos dar.
Não vês o novo sol surgindo?
A mola soltou-se com estrondo.
Há um vulcão em erupção.
Coisa alguma ficará impune... é tudo ou nada.
Já não vale pisar o chão que foi pisado.
Apenas vaga memória persiste.
É o adubo do novo que consiste
na nova realidade ainda envolta
pela película do sonho, prestes a se romper.
O pesadelo acabou?
Há uma criança nascendo?
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Permitam-me
Permitam-me falar de Amor...
Amar é bom, é muito bom!
Se a vida que vivemos tem seu lado obscuro, tem também seu lado luminoso, à espera de que nós possamos participar, irradiando tudo que de melhor possuímos... e o que de melhor possuímos é a nossa possibilidade de amar.
O amor, a ternura, a solidariedade, o caminhar juntos são a forma mais humana de fazer germinar sobre este mundo, sobre a nossa vida pessoal e comunitária, o bem que precisamos.
Que tal acompanhar-me nessa " quase oração "?
Preciso ardentemente da inocência
como a escuridão precisa da luz.
como a ave precisa do espaço para voar.
como a criança precisa da mãe que a alimenta.
em que a verdade seja plena.
ao menos por um dia!
Preciso crer que a maldade não existe
e confiar que o mundo ainda tem jeito.
Preciso acreditar que a humanidade
foi uma boa idéia.
*************************************
Quase não falei de Amor... É generoso, o Amor...e democrático. Está sempre pronto a invadir e colorir qualquer espaço disponível, qualquer coração aberto disposto a se entregar e aceitar suas
normas, às vezes surpreendentes.
NO LIMITE
Quando o amor vem chegando
tudo fica verdadeiro.
Aperto de mão é usina.
Flores cantam na janela.
Chuva tem gosto de bênção
e mesmo que seja junho,
calor é de fevereiro.
O coração se debate
como pássaro em gaiola,
batuca que nem pandeiro.
Nem dá para olhar nos olhos.
Rubro da face revela
o desequilíbrio interno
do corpo em nova cadência.
Arre! É quase desespero,
parece revolução.
É o mais colossal sintoma,
a fina constatação,
a mais completa evidência
de que a vida está viva
e pronta pra ser vivida
até o dia derradeiro.
*****************************
As ilustrações ficarão por conta de Anabel Cavalcanti...as fotos são dela!
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Tudo já foi longe demais
Houve tempo
(parece um passado bem distante)
em que a vida tinha valor.
Mulheres piedosas
rodeavam o berço do recém-nascido
e louvavam o Senhor...
Povos primitivos
elevavam a nova criatura
acima dos ombros, em oferenda,
e bendiziam o novo ser.
O Senhor da Vida e da Morte
era invocado.
Sabia-se o valor do dom.
Festejava-se.
Cantos, danças, rituais,
tudo apontava
a glorificação do Sumo Bem.
Só a criança chorava.
A morte programada convivia
com os humanos, sim,
mas limitava-se
ao seu lugar próprio: a guerra.
Guerra...parecia ser, então,
a suprema loucura,
em razão de algum
distorcido objetivo
que a ambição humana encerra.
Hoje
observa-se o absurdo.
Loucura generalizada.
O ser humano não conseguiu
ser o Senhor da Vida
mas já é o Senhor da Morte.
A morte passeia livre.
Crimes semeados
como se fossem flor
germinam com a voragem
de ervas daninhas.
Já não há limites
nem justificativas.
A morte, de tão inesperada,
já é esperada.
Troca-se a vida
por qualquer objeto sem valor,
por qualquer emoção danificada.
Mata-se por tudo ... e por nada.
E as crianças que nascem
continuam chorando...elas sabem.
Elas, com certeza, sabem.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
A cantante e poemas afins
Vocês querem saber o que é VIDA? Querem saber o que é ALMA?
Daquele ser frágil surgiu a GRANDE MULHER, a legítima representante da alma latina que encanta o mundo...mais que isso...cada mulher que a ouvia, ali, sentiu-se vivida naquelas palavras cheias de sentimento, palavras fortes, provocadoras, cortantes como facas( Belquior,1973),que atingiam a nós todos, e a mim,fazendo-me chegar às lágrimas (confesso!) quando cantou "Alfonsina y el mar".Trouxe-me de volta a história da poeta que cansou de buscar o Amor no universo masculino tão distanciado do desejado pela alma feminina.
Alfonsina Storni (1892-1938) foi-me apresentada por uma amiga argentina( não foi o Google),
que, entre emocionada e desconsolada, me falou do momento decisivo da Vida da poeta quando ela desistiu de continuar buscando por algo que não encontrava e, lentamente, entrou mar a dentro, talvez a buscar o GRANDE POEMA que ainda não tinha escrito..ou o Amor...
"sabe Dios que angustia te acompanhou...penas e silêncios...Com tu soledad, que poemas nuevos fuiste a buscar..." assim se expressou Violeta Parra tentando entender...Magistral melodia com versos à altura da musa inspiradora.
Deixo para vocês trechos de um poema de Alfonsina que me marcou profundamente quando ainda quase nada conhecia da Vida e de Amores...
TU ME QUIERES BLANCA
Tú me quieres alba,
me quiees de espuma
Me quieres de nácar,
que sea azucena
Sobre todas, casta.
De perfume tenue,
Corola cerrada.
.............................................
Tú me quieres nívea,
tú me quieres blanca,
tú me quieres alba
Tú, que hubiste todas
as copas a mano
De frutas e mieles
los lábios mojados
Tú, que en el banquete
....dejaste las carnes
festejando a Baco
Tú ,que en los jardines
negros del engaño,
vestido de rojo
corriste al Estrago.
Tú que el esqueleto
conservas intacto
no sé, todavia,
por cuales milagros,
me pretendes blanca
(Dios que te lo perdone)
Me pretendes casta
(Dios que te lo perdone)
Me pretendes alba!
Huye hacia los bosques;
Vete a la montaña;
Limpiate la boca,
vive en las cabañas.
Toca con las manos
la tierra mojada.
Alimenta el cuerpo
com raiz amarga.
Bebe de las rocas.
Duerme sobre escorcha.
Renueva tejidos
con salitre e agua;
Habla com los pájaros
y lévate al alba.
Y quando las carnes
te sean tornadas,
Y quando hayas puesto,
en ellas, el alma
que por las alcobas
se quedó enredando,
Entonces, buen hombre,
Preténdeme blanca,
Preténdeme nívea,
Preténdeme casta.
............................................................................................
Não desejo comentar...não cabe...estretanto peço desculpas per algum erro de ortografia.
domingo, 30 de novembro de 2008
Variação sobre o mesmo tema
Penso-me alguém quase normal,
com pés no chão
e cabeça nas nuvens...Tudo bem!
Mas há o dia do reverso,
é uma loucura só:
Cabeça no chão e pés no céu,
...uma tortura!
Pareço-me ao contrário, pelo avesso!
Ou foi o mundo que virou ponta-cabeça.
A lógica evade-se
para longínquas regiões
e a fantasia assume o leme.
Já não respondo por mim
...mas gosto de estar assim.
A este posicionamento,
a este sentimento,
O Poeta chamou Floresta do Alheamento.
Voltar à realidade
é despencar sem paraquedas
de alturas infindáveis.
É suave saber que nada importa
nada merece atenção...
Nem mesmo espatifar-me no chão
- o que não vai acontecer porque
nem peso, no momento, pareço ter.
Meu quintal não tem sapoti mas tem roseiras e biribiri... mas como canta Fafá de Belém "quem for louco ou for poeta pode entrar, seja bem-vindo"
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Conquista
Uma ciranda de pedras.
Caminho nada seguro
leva à terra prometida.
Sequeiro...e o outro lado convida...
Através do Rio Cachoeira,
a jornada.
Atravessar o mar vermelho.
Desafio !
Não uma simples aventura
...rigoroso rito de passagem.
Aurora da juventude.
Viagem de se fazer só
e conquistar com fé
o cetro da coragem.
Já na outra margem,
mais que um brado:
O suspiro e o iluminado sorriso
da vitória.
Nunca mais o temor.
Nunca mais a insegurança.
Nunca mais o medo.
À frente, a Vida !
Há, lá na juventude, momentos marcantes que, de repente, reaparecem com novo significado, que, nem de longe, se mostraram como epifania no momento em que aconteceram...A memória os reveste de filigranas e luzes, e eles se apresentam com nova roupagem...e se fazem signos e ícones de algo muito maior.
Assim foi a minha convivência com o Rio Cachoeira (hoje transformado em esgoto,da cidade vizinha à minha...Que pena !).Muitas vezes ele, o rio, me serviu de mestre. Feliz de quem "possuiu" um rio em sua infância e juventude. Voltarei a falar sobre ele...é o tributo que lhe pago por ter-me feito feliz, um dia...Sua bênção , querido amigo, que hoje deve fazer parte de algum museu no céu ( figura poética de Mário Quintana,meu também querido mestre e amigo).
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Liberdade para as flores
Liberdade para as flores
Nos jardins bem regulares,
projetados em métrica e rima,
flores são obedientes,
nem podem olhar para o lado.
São pelotões de soldados,
talvez jovens escolares,
trotando em marcha forçada.
Meu jardim não é assim.
Tem direito à liberdade.
As cores são misturadas,
perfumes entrelaçados,
uma mixórdia encantada.
É tudo tão caipira
tão louco, tão colorido,
tão risonho e espontâneo
-às vezes emurchecido-
que é retrato fiel,
definindo com presteza,
o inesperado da vida.
Minha poesia também é assim.
Comentário
Depois de quase um mês sem contato, devido ao tsunami que estragou a placa-mãe com tudo que ela representava, parece-me ser possível (nesse instrumento, não tenho certeza de nada!!) estar de novo no ar. Esta pequena poesia vai como teste e a grande rosa também. Recuso-me a escrever sem ilustrar... afinal, se as palavras não agradarem, a flor, certamente, agradará.
Espero contatos no haloscan para me estimular a continuar com vocês...o meu tesão, devido às intercorrências, está um pouco baixo. Como eu disse, "um pouco emurchecido".
Espero também que, de agora em diante, as coisas corram mais tranquilamente!
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
COTIDIANO
Francamente não entendo
a quem possa interessar
o jeito bem pessoal
como organizo a agenda.
Se vejo que a tristeza vem
ajudo a sua chegada:
leio João Guimarães Rosa.
Acompanho Tatarana
no Grande Sertão, Veredas,
naquele amor impossível,
naquele desespero mudo,
naquela tremida mão,
quase a colher o fruto,
mas sem poder alcançá-lo.
E a dor dilacerante
contida no arrependimento
de não ter falado a tempo
_ um desperdício de vida...
Se estou feliz, transbordante,
ouço música bem alto,
canto, rio, faço bolos,
distribuo chocolates
às crianças dos vizinhos,
dou mil voltas no jardim,
conto flores, rego as plantas,
observo beija-flores...
Sou boa pra todo mundo
..e a vida é boa pra mim!
Se acordo a televisão
( e prefiro não fazê-lo)
a dor ocupa meu peito
ao ver tanto descontrole.
O rio de desespero
que corre por sobre o mundo
e corro a fazer poesia,
destilando a agonia
que invade o meu pensamento.
É dor! É tristeza! É pranto!
Não sei como o mundo aguenta
tanto descontentamento.
Às vezes a serenidade,
lenta, vem se aproximando
e me recolho ao sacrário
e ali me quedo, muda,
ou converso só comigo.
Nesta hora o relógio não tem vez.
As horas passam sorrindo...Silêncio...
Com certeza sai poesia!
E assim se passam os dias
plenos de dor e alegria.
E curto cada momento,
sentindo o gosto do azedo,
do amargo e, como convém,
degustando o doce, o ardente,
saboreando, com gosto,
o gosto que a Vida tem.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
A TARTARUGA
Pobre pequena tartaruga
Causas-me pena...
Aprisionada
em teu colete blindado
Que tremenda solidão!
Que injusto distanciamento
do mundo.
Será que tens coração?
Parece-me, nada te atinge.
Não te apercebes do frio?
nem do calor?
Não te permites a troca, o conviver,
o afeto, o bem querer...
Ao menor sinal de invasão
te recolhes ao mais profundo
de ti mesma.
Não vês o que não queres ver...
Não ouves o que não te apraz...
No teu espaço próprio
nenhum ser vivo é recebido?
Ninguém ultrapassa
a tua carapaça!
E, se não queres,
também de ti não sais.
Sabes,
não creio seja pena
aquilo que por ti viceja
neste meu coração tão desgastado...
Sabes? Eu tenho inveja!
****************************
Aí está… Qualquer biólogo pode rejeitar o que o poeta enxerga.
Mas “Eu não tenho tribunal”… É assim que vejo, é assim que É.
Quando o poeta sente, ele fala em nome de si mesmo e de quem sente mas não sabe dizer.
Abraços.
domingo, 19 de outubro de 2008
Gaia ferida
Lembrando Caetano
Como quisera ser poeta.
Ter feito a fascinante descoberta:
Vivemos imersos no azul do céu
"que vem até onde os pés tocam a terra".
Respira a Terra
o azul que a envolve
E, ao espaço,
o azul que inspirou devolve.
Mas, horror,
vê-se ferida a glória
de que é feita a vida.
Vê-se ferida, maltratada,
por mão submissa à liberdade
(liberdade conseguida, mas pouco merecida).
Vê-se maculada
a infinita beleza.
Como ensinar ao ser humano a delicadeza?
Como fazê-lo compreender
o gozo que o contorna?
As cores do arco-íris tocam o chão,
ali apontam o único,o admirável,
o imensurável tesouro
que a luz do Sol revela.
Somente os pés,
as mãos e a vontade
podem criar nova mentalidade.
Abrir novo caminho à nova realidade,
permitindo que o verdadeiro céu nos mude
e nos devolva a felicidade.
Aos amigos que cantam “verde que te quero verde”…
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Milagre
Divina mão florentina intuiu
a divindade do toque
e o eternizou nas cores
da esplendorosa Sistina
Do toque - Faça-se a Vida!
...a Vida surpreendeu.
Do toque - Surja a Beleza!
...a cerejeira floriu.
Do toque - Que venha o Amor!
...as mãos se entrelaçaram.
Do toque - Que viva o Sonho!
...os olhos se entreabriram.
Do toque - Faça-se a Luz!
...cintilou o Firmamento.
Do toque - Que triunfe a Alegria!
...Milagre: aconteceu Você!
Definitivamente é um milagre cotidiano acontecer em nossas vidas,aquela pessoa, ou aquelas pessoas, que vem trazendo sorrisos sinceros, gestos de gentileza, afagos carinhosos...
melhor ainda se É VOCÊ essa pessoa que faz a vida de alguém mais feliz, mesmo que por alguns momentos.
É tão simples!
Veja o que diz Emily Dickinson:
"Se eu puder evitar que um coração se parta
Não viverei em vão.
Se eu puder suavizar a aflição de uma vida,
Aplacar uma dor,
Ou ajudar um frágil passarinho
A retornar ao ninho,
Não viverei em vão."
domingo, 12 de outubro de 2008
Susto
com o mineiro de Itabira.
Preciosa companhia...
Deixei queimar o feijão.
O arroz quase germina
esperando o fogo amigo
que nem foi acionado.
Flores no jardim gemiam
sem água de matar sede.
Vaso na mesa vazio,
olhar de cão desprezado
E eu? Cada vez mais inserida
na mina de ferro e fogo,
no trole desembestado me perdendo em devaneios,
a todo vapor,
sem freios,
viagem predestinada e vivida.
De repente
um rumor inesperado.
A vizinhança assustada
se achegou seguindo o faro da comida incinerada.
Que susto!
Que confusão!
Fui arrancada sem dó
de tão fina companhia.
Tudo saiu do lugar...
Adeus Carlos Drummond de Andrade,
agora eu aqui tão só!
...e sem nada pra almoçar.
Vejam vocês,
Há anos convivo com esta condenação de queimar comidas quando me empenho numa leitura!!!!! Já cheguei a queimar a água onde deveria fazer macarrão... a panela secou e ficou estalando.
AGORA, absurdo dos absurdos, há poucos dias fui, de novo, despertada pela vizinha do apartamento ao lado que sentiu o cheiro da comidinha queimando.
Pasmem!!!!!! Eu estava absurdamente absorta no computador!!!!!
Nunca pensei que isto iria me acontecer!!!! Na estante os livros se mordiam de ciúme. Agora estou tentando me justificar com eles: "Foi um acidente de percurso...Juro que não vai acontecer de novo! " (Será??????)
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Opinião
Mais uma opinião para provocar reflexão(ou turbulência)
Excerto retirado da revista VIDA SIMPLES(Out.2008)
Haja paciência
......................
Cerca de 30 anos atrás,o trabalho era hierarquizado,com funções e tarefas bem definidas.
Hoje o trabalho é em equipe, com diversos graus de chefia e prazos cada vez mais rigorosos.
"Embora o treinamento empresarial ensine a ser combativo, pouco fala da reflexão" diz Alexandre Santilli...
Aquele momento mágico de olhar a situação de fora e tentar ver todos os seus aspectos para encontrar a melhor solução.
A falta desse olhar pode gerar ansiedade, tomadas de decisão
meio "tortas", irritação e impaciência- com o chefe,os colegas e até com a moça que serve o café...
Ritmo próprio
Claro que se a pressão fosse menor, a vida seria mais fácil. Só que, com esse formato de"mais com menos", é quase impensável parar para refletir, observar o furacão de fora.
Mas não é impossível."É preciso desenvolver a noção do tempo de resposta,entender como funciona nas pessoas e ter disponibilidade para compreender o que há por trás de cada um"(A.S.).
A relação com o outro(em qualquer nível) requer uma atitude que demanda paciência:o esforço de nos colocarmos no seu lugar para compreender o que se passa com ele e seu tempo de reação.
E essa exigência de paciência também é com você, porque não é fácil desligar a chave geral da correria para viver um momento humanista.
............."A paciência está ligada ao tempo e ao ritmo de cada um.As pessoas devem prestar atenção porque em geral passam por muitas coisas sem enxergá-las",afirma a psicóloga Neusa Sauaia....
......A esses estressados, a terapeuta mostra que impaciência é uma forma de autoviolência porque eles não se ouvem para saber o que querem, do que gostam."Eu os aconselho a criar um mecanismo que lhes permita terem um tempo só para si.Como se tirassem férias de cinco minutos ou meia hora todos os dias.
..............,o tempo é elemento de peso no aprendizado da paciência.Mas não o tempo que corre no relógio.
O tempo para a vida acontecer é outro. Trata-se do tempo natural, que rege o funcionamento da Terra, do universo........."As pessoas precisam observar mais a natureza e aprender com ela"diz Neusa Sauaia.
"E preciso ler os sinais que a vida traz"(N.S.)......
"Se as pessoas fossem mais espiritualizadas teriam valores mais humanistas"(A.S.)
É preciso estar disponível, de fato, para o outro.Entender o que ele precisa.
Às vezes ele nem solicita muito.Quer desabafar, contar uma história, jogar conversa fora.
Só que as pessoas andam tão impacientes que nem a isso se dispõem. Porém sempre é tempo(ele de novo!) de mudar, experimentar algo diferente: como aprender a ser paciente e perceber a vida acontecendo.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Contração… ou expansão?
Em todo adulto
há que pulsar
uma infância prolongada
uma adolescência tardia
uma velhice antecipada
para que seja possível
saborear toda a riqueza da vida …
Porque
a Inocência
o Entusiasmo
a Sabedoria
são a pedra de toque
do viver enriquecido.
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Pequeno comentário:
Temo que o sofrimento que esta nova linguagem me provoca venha a acelerar a minha terceira fase do VIVER ENRIQUECIDO.
Quase ótimo estar com vocês!
Dinah
Só então…
Quando já não precisar saber
só então o saberei.
Enigmas desvendados
Mistérios revelados
Fora das prisões do tempo
Além do espaço
Longe de qualquer limite
Nenhum anseio
Nenhum vazio
Nenhum por quê...
Conexão perfeita
Só então, feliz.
Terra à vista!
Eternidade!
Enfim desembarcar!
EmilY Dickinson
Explico:
Este poema foi escrito em momento profundamente filosófico…entretanto…achei-o muito próprio para quando a Senhora Dona Internet me deixa desesperadamente desesperada. Agüentem-me!
Opinião da opinião
Uma opinião importante não pode ser descartada..Vai daí que, com prazer, registro a colaboração de Jucemir…ex-aluno, atual parceiro nas incursões pela máquina de fazer doido (…ou curá-los?). Espero que aproveitem.
“Outro dia no metrô, ouvi a seguinte declaração em meio a um diálogo entre adolescentes:”Para que eu vou perder tempo lendo um livro se eu posso entrar na Internet e ler um resumo?”
Acredite: fiquei deprimido.
Será que essa pobre alma juvenil ficaria satisfeita com o trailer em vez do filme?
Sem dúvida, Googles e Wikipedias são excelentes fontes de consulta para muitos assuntos, mas apenas isto.Cumprem a função de enciclopédias; porém, por mais informativo que seja o verbete Machado de Assis, ele não se propõe obviamente a dar conta da obra do autor.
Creio que, anterior mesmo a questão do livro e da leitura, exista o problema da fascinação humana pelos brinquedos – seja o computador ( e suas possibilidades “on-“ e “off-line”), seja o celular neo-kitsch(insuspeito herdeiro eletrônico do canivete suíço), seja o carro com toda sorte de acessórios - e a pletora de comodidades ofertadas pelo universo produtor de mercadorias, sempre eloqüente e eficaz na produção de álibis que nos aplaquem a consciência, cada vez mais difusa, que temos de nosso infantilismo e de nossa indolência.
Exagero se disser que, de modo paradoxal, uma época tão rica em ferramentas tecnológicas é lamentavelmente pobre de idéias – inclusive no campo da arte?
Primeiro admirava-se um quadro pela composição e pelo tema, depois pela cor, e por último pela tinta.
(Quando Chico Buarque surpreendeu a todos dizendo que a canção estava condenada a desaparecer, talvez tenha apontado para um empobrecimento desse tipo.)
Há quase vinte anos, Guy Debord escreveu em A Sociedade do Espetáculo[Para quem não leu, recomendo-o penhoradamente.]: “ Não é de estranhar que, desde pequenos, os alunos comecem com grande entusiasmo, pelo Saber Absoluto da informática: enquanto isso, ignoram cada vez mais a leitura, que exige um verdadeiro juízo a cada linha e é a única capaz de dar acesso à vasta experiência humana antiespetacular.A conversação já está quase extinta, e em breve também estarão mortos muitos dos que sabiam falar.”
Pessimista? Acho não.
Um amigo meu que padece no eito ingrato de duas escolas da rede pública, me disse que às vezes perde a paciência com a “estupidificação” avançada de seus pupilos e apela invocando as quatro verdades filosóficas dos novos tempos: “O bagulho é doido, a chapa é quente, o papo é reto e o processo é lento”.”
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Há um Deus
Há um Deus.
Claro que há um Deus!
Se não houvera,
como explicar
...um cacho de rosas
com vinte e cinco rosas
...um beija-flor
que pára em atitude de oração
só para ouvir canções
...uma criancinha linda que lambuza
os olhos e os lábios de mel
só para dizer “Papai”
...e com a mesma ternura
as aves cantam anunciando a manhã
...e o amor amansa as feras.
Se não houvera... Ah se não houvera!
E a brisa que suaviza o sol
que poreja a testa do trabalhador
no seu afã de engravidar a terra?
E o mar que vem e vai
mas não seca nunca... nem transborda
apesar de receber, sereno,
todas as águas que correm?
Há um Deus no Sol
que faz cirandar a Terra e seus irmãos.
Há um Deus na chuva
...no coração de quem perdoa
...naquele que oferece as mãos
...naquele que acolhe o irmão.
Há um Deus... Há um Deus!
Há um Deus da fartura
e estamos todos salvos! Somos amados!
Procura-se
No mar de confiança em que estamos navegando quero colocar um convite que poderia ter sido o primeiro post neste blog, mas creio que ele ainda chega em tempo.
Procura-seProcura-se um coração sensível,
alguém que saiba ver... ouvir... calar-se.
Alguém que queira mergulhar, sem medo,
no poço do prazer ou da loucura.Alguém que olhe nos olhos
e se derrame em gestos de ternura
sem pensar que perdeu algo de si
...ou se divide.Alguém que não se importe
de dançar na praça
e nem perceba que
a multidão aplaude.Alguém que não duvide.
Que nem falar precise,
pois os olhos e o silêncio dizem tudo.Alguém que ame envolver-se
na brisa dos domingos
qualquer que seja o dia da semana.
Que se encante ao receber no corpo,
inesperadamente,
as águas do verão de março.Que não esconda o rosto
ao soluçar, chorando.
Sim, alguém que chore!
Mas chore de verdade.
Seria pedir muito
em mundo tão fingido?Procura-se alguém que ame
sem que, necessariamente,
esse amor precise acabar na cama.Alguém com olhos de espanto,
ao ver, perto de si, um passarinho.
Que coma, com prazer, o pão de cada dia,
o mesmo prazer que sente num copo de vinho.E que saiba sorrir a cada instante.
Sorrir de tudo, de nada, de lembranças.
Não. Não precisa gargalhar.
A gargalhada é o abuso do sorriso.Alguém que queira
ler e apreciar poemas.(Alguém está precisando é de um amigo...)
Se você preenche este perfil, por favor,
venha estar comigo.
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Em off
É só o tempo de votar... e esperar o resultado. Segunda pela manhã o pátio volta a receber os cirandeiros na dança da poesia!
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Tropismo
Leis
Normas
Mandamentos
Recomendações
Sanções
Coações
Cortes
Medidas provisórias
...e definitivas
Deveres
Poderes
Olhos atentos
Câmeras indiscretas
Multas
Fiscalização
Disciplina
Ordem
...é Progresso?!
Observo o bambu japonês... Somente
a sua própria energia
o orienta
e, subindo sempre,
ele busca o Sol
...que, em absoluto silêncio,
o atrai... e o espera.
Opinião
Quem?
Robert Darnton, historiador e diretor da Biblioteca da Universidade Harvard:
"O livro é uma grande invenção. É agradável de manusear e ler. Não desaparecerá. Mas crianças e adolescentes têm hoje pouco contato com ele. Sua fonte de entretenimento é o computador. Os jovens são fascinados pelas pequenas doses de informação a que têm acesso pelos diferentes tipos de máquina e não desenvolvem o hábito de longas horas de leitura.
.....................Eles dependem demais do Google. Ele é uma ferramenta fantàstica, mas não é adequada para oferecer ao leitor o tipo de experiência, de degustação, que só o livro possibilita."
(Revista Época, 01/09/2008)
Você concorda?
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Sem volta…
No mais alto da montanha
o gesto definitivo.
Agora não há mais volta,
o que está feito, está feito.
Rasgado o forro da almofada
as plumas pertencem ao vento…
Não cabe arrependimento.
Em cada pluma, uma história…
Em cada história, um sentimento…
Em cada sentimento, a alma.
Assim
a alma do poeta
fez-se pássaro,
fez-se nuvem,
fez-se gota de orvalho
a revigorar a noite.
Liberdade – borboleta
perdeu-se em discretos rodopios,
sem limites,
sem controle,
sem fronteiras…
O infinito horizonte
é seu caminho.
Campos e vales
seu destino.
Impossível ao poeta
recuperar o que era seu.
Rasgado o peito,
a alma se evadiu
…mas não se sente só nem triste.
Em algum lugar distante,
quem sabe, num curto gesto,
uma delicada mão,
recolhendo-a suavemente,
vai lhe dar toda atenção.
***************
Pois é!
Diante das exigências do meu ainda restrito público, eis-me aqui, em rede, conversando com vocês.
Timidamente estendo as mãos. Deve haver, em algum lugar, alguém querendo dançar uma ciranda (não confundir com a ciranda global!!!). Refiro-me à ciranda que oferece o contato amigo, a presença sempre frontal que obriga o olho no olho, o que expressa confiança. A mão na mão faz circular energias inexploradas… o ritmo lento e constante não cansa jamais. Aquele passinho, que parece retroceder, apenas demonstra que não há pressa.
É, a ciranda, o real sentido da vida que escorre lenta para que se tenha tempo de fazer amigos.
Pena que tenhamos esquecido isto… e, muito apressadinhos, por vezes nos perdemos.
Mas vale a pena relembrar, nesta conversa com você.